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O livro dos mortos

O que é o livro dos mortos?

O Livro dos Mortos era uma coleção de feitiços, hinos e orações que pretendiam afiançar a passagem segura e curta do falecido ao outro mundo.

O pergaminho de Nevolen relata o transporte da alma até Osíris: um barco leva o esquife negro, que contém a múmia do defunto, e os canopus; Ísis está próxima à cabeça e Neftis dos pés da múmia, ambas vestidas de vermelho. Após Anúbis receber o ataúde, a alma se ergue e começa a adorar os quatros gênios do Oriente, as aves sagradas e Amon. Então, a alma é introduzida no Tribunal de Osíris.

O papiro de Nes-min mostra o que acontece com a alma após entrar no Tribunal de Osíris, o deus dos mortos, que determina o mérito do defunto para entrar na próxima vida, avaliando suas ações no plano terrestre.

O coração do defunto está sendo pesado na balança da deusa Maat, que representa a verdade e a justiça. O deus-jacal, Anúbis, da um voto a favor do defunto, restabelecendo o equilíbrio, enquanto isso, o deus-falcão, Hórus olha para o deus-íbis. Thoth, o secretário dos deuses, dando o veredicto favorável para o morto.

O defunto eleva suas mãos em júbilo, acompanhado pela deusa Maat. Em sua frente está Ammut, um monstro com partes de hipopótamo, crocodilo e leão, que o teria aniquilado caso o julgamento fosse desfavorável.

A alma do morto, ao comparecer ao Tribunal de Osíris, deveria recitar a seguinte oração para cada um dos quarenta e dois deuses presentes no tribunal:

“Glória a Ti, Senhor da Verdade e da Justiça! Glória a Ti, Grande Deus, Senhor da Verdade e da Justiça! A Ti vim, meu Senhor, e a Ti me apresento para contemplar as Tuas perfeições. Porque Te conheço, conheço Teu nome e os nomes das quarenta e duas divindades que estão contigo na sala da Verdade e da Justiça, vivendo dos despojos dos pecadores e fartando-se do seu sangue, no dia em que pesam as palavras perante Osíris, o da voz justa: Duplo Espírito, Senhor da Verdade e da Justiça é o Teu nome. Em verdade eu conheço-vos, senhores da Verdade e da Justiça; trouxe-vos a verdade e destruí, por vós, a mentira. Não cometi qualquer fraude contra os homens; não atormentei as viúvas; não menti em tribunal; não sei o que é a má fé; nada fiz de proibido; não obriguei o capataz de trabalhadores a fazer diariamente mais que o trabalho devido; não fui negligente; não estive ocioso; nada fiz de abominável aos deuses; não prejudiquei o escravo perante o seu senhor; não fiz padecer de fome; não fiz chorar; não matei; não ordenei morte à traição; não defraudei ninguém; não tirei os pães do templo; não subtrai as oferendas aos deuses; não roubei nem as provisões nem as ligaduras dos mortos; não auferi lucros fraudulentos; não alterei as medidas dos cereais; não usurpei terras; não tive ganhos ilegítimos por meio de pesos do prato da balança; não tirei leite da boca dos meninos; não cacei com rede as aves divinas; não pesquei os peixes sagrados em seus tanques; não cortei a água em sua passagem; não apaguei o fogo sagrado; não violei o divino céu nas suas oferendas escolhidas; não escorracei os bois das propriedades divinas; não afastei qualquer deus ao passar. Sou puro! Sou puro! Sou puro!“.

para os egípcios, todo ser humano possuía várias almas (Ba, Akh, etc.) e um Ka, uma espécie de corpo etéreo. Quando um homem morria as suas várias almas libertavam-se e assumiam a forma de um pássaro com cabeça humana. Para os eleitos (faraós, hierofantes, nobres, etc.) acreditava-se que as almas viravam as estrelas do céu.

Outras explicações


Para os antigos egípcios, a ligação entre a vida e a vida após a morte era muito importante. Eles acreditavam que, após a morte, a alma das pessoas viajava para longe do corpo mumificado, para um vasto mundo do além, cheio de desafios e perigos. O supremo desafio aguardava-a no Salão das Duas Verdades. Ali, seu coração era testado e pesado por Osíris, deus do mundo dos mortos, na presença de quarenta e dois "deuses assessores". Para passar no teste, a pessoa morta precisava recitar uma lista de confissões.

O coração da pessoa morta, ao ser pesado, tinha que ser mais leve que a Pena da Verdade. Se o morto vencesse o teste, tinha permissão de passar a eternidade em terras à margem de um rio, pescando e caçando num mundo bastante semelhante ao Egito. Se falhasse, seu coração era comido por um crocodilo-monstro, o "devorador dos mortos". Grande parte do que era registrado no Livro dos Mortos refletia as crenças morais comuns da época.

Para guiar a alma quando estava longe do corpo, os egípcios reuniam orações, desenhos e encantos mágicos num Livro dos Mortos. Esses livros eram escritos em papiro ou em couro, encerrados numa caixa decorada com uma imagem de Osíris e enterrados no sarcófago ou colocados entre os panos que envolviam as múmias antes do enterro. Os arqueólogos encontraram centenas desses manuscritos, cada um ligeiramente diferente do outro.

Palavras mágicas do livro


Extraídos do Papiro de Ani (livro dos mortos do túmulo do escriba Ani).

COMO SAIR A LUZ DEPOIS DE HAVER PASSADO PELO TÚMULO

“Salve, alma poderosa e forte(...). Passei pelo mundo inferior, vi meu divino pai Osíris. Sou seu amado(...). Apunhalei o coração de Set(personificação da trevas), realizei todas as cerimônias para meu divino pai Osíris. Tornei-me um corpo espiritual, tornei-me uma alma imortal(...). Fiz um caminho para mim mesmo, o escriba Ani vitorioso."

COMO ENTRAR NO MUNDO INFERIOR E DE LÁ SAIR


“Hinos de louvor te sejam entoados, ó Rá! Guardador das portas sagradas que estão em fronte do deus Seb(da terra)(...). De fato atravessei a terra, deixe que eu prossiga e chegue ao estado de velhice”.

Hinos


Hino à Osíris


“Louvado sejas tu, Osíris, Senhor da eternidade(...)Cujas formas são múltiplas e cujos atributos são majestosos(...). Ísis te abraça em paz e afugenta os demônios da boca dos teus caminhos. Voltas o rosto para Amentet e faças brilhar a terra, como se fosse de cobre polido. Os que se deitaram(isto é, os que morreram), levantam-se para ver-te, eles respiram o ar e olham para o teu rosto, quando o disco se levanta no horizonte; seus corações estão em paz na medida em que te contemplam, ó tu que és eternidade e perpetuidade!"

PARTE DO HINO DE LOUVOR A RÁ, QUANDO SE LEVANTA NA PARTE ORIENTAL DO CÉU:

“Homenagem a ti que vieste de Quépera, Quépera, o criador dos deuses. Tu te levantas, brilhas e alumias tua mãe, a deusa Nut, és coroado rei dos deuses e tua mãe, Nut, rende-te homenagem com ambas as mãos. A terra na qual o Sol se põe te recebe com satisfação, e a deusa Maat, te abraça assim de manhã como na tarde. Possa Rá dar glória, poder, triunfo e uma saída como alma viva(...).

O "Livro dos Mortos" de Neferrenpet

Datação: Ramsés II, Usermaetré-Setepenré 1279-1213
Proveniência:
Deir el medina
Categoria:
Papiro
Material:
Papiro
Técnica:
Pintura, cauda de andorinha (junta)
Altura:
25 cm
Largura:
1385 cm

Desde o Império Novo os egípcios tinham o hábito de confiar ao defunto textos funerários retirados do "Livro dos Mortos". Foram escritos sobre sudários, paredes de túmulos, objectos funerários tais como chauabtis ou escaravelhos, e acima de tudo sobre rolos de papiro, que eram enrolados nas múmias ou colocados ao seu lado. O "Livro dos Mortos" do escultor Neferrenpet data de c. 1250 a.C. Os textos, escritos com hieróglifos cursivos, foram dispostos em colunas verticais, acompanhados por imagens, ou vinhetas, que fortificam o seu conteúdo mágico. O defunto era suposto recitar as fórmulas para enfrentar os perigos no outro mundo.

O livro dos mortos no segundo período intermediário


Este é o período mais nebuloso da História do Egito no que se refere às práticas funerárias. Com efeito, não sabemos como os Hicsos enterravam seus mortos, ou mesmo se o faziam, porque, pelo fato de Avaris se localizar no Delta, e pelo fato de aquela região ser freqüentemente alagada sendo semi-pantanosa, a maior parte dos vestígios arqueológicos acabou destruída. Mesmo Mênfis, capital secular do Egito tem suas escavações muito dificultadas pela destruição das águas do Nilo. Sendo assim, infelizmente, nada se dabe sobre as práticas funerárias Dinásticas dos Hicsos.

contudo, no tocante às práticas funerárias da população nesse período, sabemos que a mumificação, bem como o sepultamento o mais digno possível, continuaram ocorrendo. A XIII Dinastia do Fayum, enquanto existiu, construiu pirâmides naquela região e os Faraós da XVII Dinastia de Tebas iniciaram a construção de túmulos escavados nas rochas. Com efeito, os túmulos nas rochas foram a saída encontrada para combater os saques generalizados que se abateram sobre as tumbas Faraônicas no Segundo Período Intermediário, de forma ainda mais epidêmica do que no Primeiro.

Outra inovação introduzida nos enterramentos do final do Segundo Período Intermediário, especialmente nas primeiras tumbas escavadas nas rochas, foi o Livro dos Mortos. Esses livros eram longos pergaminhos ricamente pintados e decorados que continham informações importantes sobre como ser bem sucedido no julgamento dos Deuses no Tribunal de Osíris. Não havia qualquer garantia de que o portador de tais livros adentraria em Amentet, o livro servia apenas como uma espécie de “cola”, um lembrete para que o morto não se esquecesse do que deveria declarar e de como agir na presença dos Deuses. É possível que tais livros tenham sido criados para evitar que o choque da presença Divina atrapalhasse o raciocínio do morto. Porém, também há indícios de que bem cedo estes Livros dos Mortos tenham se tornado uma grande forma de arrecadação financeira do Clero de Amon em Tebas.


O livro dos mortos e a pirâmide de Gizé

A Grande Pirâmide de Gizé, foi a única que foi construída, desde o fundamento até o cimo, com a precisão requerida por um instrumento, uma jóia e que encerra para toda a eternidade, em cada uma de suas medidas, as correspondências essenciais com o Universo. Todas as outras pirâmides eram reproduções grosseiras da forma geral da Grande Pirâmide, sem ter dela nem a precisão, nem a execução perfeitas.

Este monumento eterno, além de seu papel de resumir conhecimentos astronômicos, era destinado a servir de santuário para o culto solar, no qual se realizava o Mistério da mais alta Iniciação.

O corredor de entrada desce num ângulo de aproximadamente 26º. Este corredor vai de encontro a um outro que sobe segundo um ângulo sensivelmente igual. Este se divide, a certa altura, em dois corredores que levam, um a uma galeria no teto elevado, chamada : "A GRANDE GALERIA", a qual conduz à "CÂMARA DO REI", e outra horizontal, a uma outra câmara conhecida sob o nome de "CÂMARA DA RAINHA".

Se compararmos a disposição destes corredores com as passagens figuradas sobre as pinturas murais que representam o trajeto do sol através do "HADES", não se pode deixar de notar pontos comuns.

A entrada simboliza a PORTA DOS INFERNOS onde o morto desce, desaparecendo na obscuridade entre as montanhas de Abidos. A descida prossegue até o encontro com o CORREDOR ASCENDENTE. É a hora do julgamento. Este, em razão dos pecados cometidos em sua existência encarnada, é condenado à destruição, ou, como diz o texto do "Am-Duat" "vai para a região de Soker" (o deus da terra), desliza ao longo da descida que representa o falso caminho RESTAU. Ele cai no fosso e é tragado sob o monte de areia de Soker. Aquele, que ao contrário, provou por sua vida direita que é digno da vida eterna, merece a recompensa da ressurreição e se eleva pela passagem ascendente até a nova bifurcação. A passagem ascendente é chamada no LIVRO DOS MORTOS: "Caminho da Verdade nas Trevas". Quando chega a este ponto, lhe é deixada a escolha. A porta que se abre para o corredor horizontal representa a porta HADES no mau caminho RESTAU. Este corredor conduz à câmara das "coisas secretas de RESTAU", através da qual o deus (preparando sua ressurreição) não passa, mas (os que estão nesta câmara) ouvem sua voz". (Am-Duat-4ªdiv.)

O LIVRO DOS MORTOS chama esta câmara: "CÂMARA DO 2º NASCIMENTO". Isto significa que, apesar de aqueles que escolheram este caminho tenham renunciado à elevação suprema predestinada, lhes é permitido "ouvir a voz do Logos" e eles estão conseqüentemente capacitados a reparar seu erro, implorando a Deus que lhes conceda a permissão para alcançar o caminho verdadeiro.

Resta "A GRANDE GALERIA", chamada no LIVRO DOS MORTOS: "O CAMINHO DA VERDADE PARA A LUZ". É a ascensão para o lugar da ressurreição. Ele representa o trajeto do sol se elevando para o lugar de seu nascimento nas montanhas orientais. Este lugar misterioso do nascimento do Sol é simbolizado pela "CÂMARA DO REI". O teto da passagem horizontal que conduz a esta câmara é rebaixado por três enormes pedras que obrigam aquele que quer penetrar na câmara a abaixar-se muito, por três vezes. Esta passagem é chamada no LIVRO DOS MORTOS: "VESTÍBULO DO TRÍPLICE VÉU". Esta passagem impõe o último obstáculo antes da alma ser definitivamente admitida no lugar da ressurreição, que o LIVRO DOS MORTOS chama de: "A CÂMARA DA TUMBA ABERTA". Um sarcófago de granito de bela feitura se encontra na CÂMARA DO REI. Não há tampa para esta "TUMBA ABERTA"; ela jamais foi utilizada para conter o morto e jamais foi destinada a este uso.

Um outro traço importante que caracteriza a Pirâmide de Gizé, é seu perfeito sistema de ventilação. Nenhuma outra pirâmide, nenhuma outra tumba do Egito, foi provida de ventilação de espécie alguma. E isto é perfeitamente compreensível, pois as tumbas eram feitas para conter corpos mortos que "não respiram". Nenhum ser vivo podia penetrar numa tumba após os funerais, pois ela era selada e sua entrada obstruída por pedras; ela se tornava um "lugar secreto", a morada do morto. O simples fato da existência de um sistema de ventilação instalado na Grande Pirâmide deveria ter chamado a atenção e mostrar que este monumento não era destinado aos mortos, mas ao uso de pessoas vivas, que tinham necessidade de respirar.é preciso ter presente na mente que as representações do Duat foram compostas pelos sacerdotes da época tebena (XI e XX Dinastia) quando o dogma foi tornado muito complexo.

O jogo citado no livro dos mortos: SENAT

É um dos jogos da família do gamão, assim como a Tábula. Segundo os folhetos dos "Jogos da Terra", teria sido encontrado um tabuleiro deste jogo na gruta de Abidos, no Egito, que foi datado de 5500 anos!

Outra obra, cita que um riquíssimo tabuleiro foi encontrado no túmulo de Tutankâmon, tabuleiro esse de ébano e marfim, com as peças em ouro.

Os desenhos existentes no tabuleiro teriam utilidade para os mortos no seu caminho na outra vida. O Senat (ou Senet) era conhecido como "Jogo de passagem da alma para outro mundo". Tanto é verdade, que é citado no conhecidíssimo "Livro dos Mortos" egípcio. O jogo simbolizaria a luta da alma do jogador contra o mal ou com as forças inimigas, que vagam no Nada. As peças de cada jogador são chamadas de "dançarinos", enquanto os "dados", são chamados de "dedos". Aqueles encontrados no túmulo de Tutankâmon, tem a forma de dedos humanos, com unhas esculpidas.

No túmulo de um sacerdote egípcio, morto no século IV a.C, encontra-se uma cena deste sacerdote jogando Senat, com a inscrição: "o coração em delícia, num jogo com amigos após o almoço, aguardando o momento de refrescar-se no salão da cerveja" Parece que, desde aquela época, jogo combina com bebida...

Além do tabuleiro simples da "Jogos da Terra", em papelão, existe o tabuleiro mais elaborado, de madeira, da "Origem", com os dados em forma de "dedos".

O livro dos mortos e os talismãs


Na civilização egípcia, cuja religiosidade sempre esteve atrelada à magia e à alquimia, que o uso de amuletos mais se difundiu na antigüidade. Num sem-número de sepulturas pré-dinásticas do Egito, tais objetos, geralmente feitos em xisto verde, foram fartamente encontrados. Popularizaram-se gradativamente a partir de 3.000 a.C., ao longo da era das dinastias, quando passaram a ser esculpidos sob diversas formas de divindades (como o olho de Hórus), animais (como o abutre e o boi), insetos (o mais comum era o escaravelho) ou ainda sob o molde de coração, cruz ansada, cetro, colar, etc.

Não raro, tais artefatos, remotamente datados, traziam ainda inscrições com palavras de poder, obviamente talhadas por magos sacerdotes, com o intuito de serem proferidas pelo morto em sua vida no além-túmulo. Muitas dessas imprecações, mais tarde, foram inseridas no Livro dos Mortos, em seções especificamente destinadas a exortar o mal e provar a dignidade da alma perante o tribunal de Osíris.

Do Egito, o uso dos amuletos difundiu-se pelo mundo antigo, impres- sionando os persas e os hebreus, que os adotaram, os gregos e, a partir destes, os romanos. Os árabes chamaram esses objetos de tilasmi, que significa tanto “sortilégio” quanto “aquilo que se veste ou se porta”, originando-se daí o nome talismã.


O livro na preparação para a vida futura


Nenhuma crença foi tão marcante na sociedade egípcia, ao longo de cinco mil anos, quanto a da vida após a morte. Nos túmulos pré-dinásticos, simples covas circulares cobertas de madeira, encimada por uma pilha de rochas e sedimentos, o morto era inumado em posição fetal, com a face voltada para o Oeste. Ao seu redor, eram depositados vasos cerâmicos, facas de sílex, adornos, entre outros objetos (El-Mahdy, 1995: 118). Tais evidências refletem, respectivamente, o renascimento e a preocupação com o bem estar do morto no outro mundo. Em épocas dinásticas, notadamente após o Primeiro Período Intermediário, a vida além-túmulo seria acessível a todos os egípcios que providenciassem a mumificação de seus corpos, procedimento este extremamente necessário para a sobrevivência das demais partes que formavam o indivíduo.

Igualmente importante era a preparação de um enxoval funerário, o qual incluía, além de alimentos e bebidas, o mobiliário que o falecido utilizou durante a vida (roupas, cosméticos, jóias, móveis ferramentas, etc.), bem como uma série de outros bens especialmente confeccionados para o uso na vida futura (Budge, 1995: 168).

Segundo o Livro dos Mortos, após o funeral, o akh do morto dirigia-se ao horizonte ocidental, onde ficava a Sala do Julgamento presidida pelo deus Osíris (El-Mahdy, 1995: 154). Perante quarenta e dois deuses, o morto declarava sua inocência, enquanto em uma balança o seu coração (representação da consciência) era pesado contra a pena da deusa Maat (representação do equilíbrio), com o objetivo de verificar que o morto não houvesse mesmo cometido as quarenta e duas ações que contavam da “confissão negativa” (encantamento n° 125), como vemos abaixo:

“Ó tu, cujos passos são longos, que vens de Heliópolis, eu não menti.” e,

“Ó tu, que és abraçado pelo fogo, que vens de Khereha, eu não roubei.” (Faulkner, 1993: 31)

a razão destas ações serem negadas demonstra que as mesmas faziam parte do cotidiano egípcio. Os próprios símbolos formadores das palavras “mentira e “roubo” refletem igualmente seu significado. Na palavra mentira, grg, o determinativo é um pequeno pássaro que representa ações pequenas ou mundanas; e na palavra roubo, awAi, o determinativo é um homem batendo com um bastão, sem dúvida uma ação repressora ou condenatória, o que demonstra que extraía-se confissões de quem roubava através de bastonadas nas palmas das mãos e nas solas dos pés.

O morto, caso fosse considerado transgressor de alguma das quarenta e duas ações condenadas, fato que nunca aparece representado nas vinhetas dos papiros, teria seu akh devorado por uma criatura híbrida chamada Ammit, a “engolidora de almas”. Se fosse considerado puro, tornar-se-ia um justificado, mAa-xrw, e passaria a viver eternamente no reino do deus Osíris.
A preparação para uma vida futura, segundo a religião egípcia, devia incluir nos túmulos objetos que o morto iria reutilizar. Tais objetos foram o principal alvo da atividade dos saqueadores. Na tentativa de contê-los, antes mesmo dos saques serem efetuados, sua prática já era condenada pela ideologia religiosa. A arquitetura funerária foi modificada, as tumbas imponentes foram substituídas pelos discretos hipogeus, construídos longe dos templos funerários.

O livro para salvar



Durante séculos, os egípcios colocaram a sua fé nas tumbas como uma salvaguarda do corpo, para uma conseqüente sobrevivência agradável depois da morte. A posterior evolução das práticas da magia, ainda que estas fossem um peso para a vida, desde o berço até o túmulo, de um modo muito eficaz liberou-os da religião das tumbas. Os sacerdotes fariam inscrições nos ataúdes com textos mágicos que se acreditava serem a proteção contra “um homem ter o próprio coração roubado, no mundo inferior”. Em breve, foi feita uma coleção de diversos desses textos mágicos e conservada como o Livro dos Mortos. No vale do Nilo, porém, o ritual de magia envolveu-se logo com os reinos da consciência e do caráter, em um grau não muitas vezes alcançado pelos rituais daqueles dias. E, subseqüentemente, dependia-se desses ideais morais e éticos, mais do que de túmulos elaborados, para se conseguir a salvação.

As superstições daqueles tempos são bem ilustradas pela crença geral na eficácia da saliva como um agente curativo, uma idéia que teve a sua origem no Egito e que se espalhou dali para a Arábia e a Mesopotâmia. Na legendária batalha de Horus contra Set, o jovem deus perdeu o seu olho, mas, depois que Set foi vencido, esse olho foi restaurado pelo sábio deus Tot, que cuspiu sobre a ferida, curando-a.

Os egípcios acreditaram durante muito tempo que as estrelas cintilantes no céu noturno representavam a sobrevivência das almas dos mortos merecedores; quanto a outros sobreviventes, eles acreditavam serem absorvidos pelo Sol. Durante um certo período, a veneração ao Sol transformou-se em uma espécie de adoração aos ancestrais. A passagem inclinada na entrada da grande pirâmide apontava diretamente para a Estrela Polar, de modo que a alma do rei, quando emergisse da tumba, poderia ir diretamente para as constelações estacionárias e estabelecidas das estrelas fixas, a suposta morada dos reis.

Quando os raios oblíquos do Sol foram observados penetrando a terra por uma abertura nas nuvens, acreditou-se que eles indicavam o abaixamento de uma escada celeste pela qual o rei e outras almas justas poderiam ascender. “O Rei Pepi fez o seu resplendor abaixar-se, como uma escada a seus pés, por onde ascender até a sua mãe.”

Quando Melquisedeque surgiu na carne, os egípcios tinham uma religião muito superior àquela dos povos vizinhos. Eles acreditavam que uma alma desincorporada, se propriamente equipada de fórmulas mágicas, poderia escapar dos maus espíritos que interferiam no seu caminho e continuar adiante até a sala de julgamento de Osíris, onde, se inocente de “assassinato, roubo, falsidade, adultério, furto e egoísmo”, ela seria admitida aos reinos da bênção. Se essa alma fosse pesada nas balanças e se estivesse em débito, seria consignada ao inferno, à Devoradora. E este era, relativamente, um conceito avançado de uma vida futura, em comparação com as crenças de muitos dos povos vizinhos.

O conceito de julgamento, no lado de lá, para os pecados da vida de um indivíduo na carne e na Terra, foi levado do Egito para a teologia hebraica. A palavra julgamento aparece apenas uma vez em todo o Livro dos Salmos hebreu, e esse salmo em particular foi escrito por um egípcio.



O livro para guiar

Segundo os egípcios, o indivíduo era formado pelo nome, corpo físico, sombra, coração e duas porções imateriais: o ba e o ka. O ba, ou princípio do movimento, é representado por um pássaro com cabeça humana. É ele que permite ao morto seguir para o mundo dos vivos, dos mortos ou sair da tumba. Já o ka é a energia vital. Ele é retratado por um par de braços esticados de modo a receber algo. Nas tumbas sempre havia oferendas para alimentá-lo. Como nosso corpo, se ka não comesse, definharia e morreria.

nome, corpo, sombra, coração, ba e ka ficavam reunidos durante a vida, segundo o povo egípcio. Mas se separavam quando o indivíduo morria. O corpo era mumificado para reunir todas as partes novamente e dar origem a Akh por meio de cerimônias mágicas. Akh é o morto que existirá eternamente e viverá de novo no mundo de Osíris, o deus dos mortos, ou acompanhará Ra na barca solar ou dos milhões de anos.

Para guiar Akh, os egípcios criaram o Livro dos Mortos ou Capítulos de Sair à Luz. A obra ensinava o indivíduo a renascer e garantia a passagem para o outro mundo. Também incluía hinos, encantamentos mágicos e fórmulas para devolver os sentidos ao morto. Como? Por exemplo, ele era enterrado com estatuetas de trabalhadores e servos, as shabtis ou shawabtis. Elas seguravam enxadas, vasos de água e sacos de sementes. No capítulo seis do Livro dos Mortos havia um encantamento para fazer as estátuas trabalharem. Como existiam 365 shabtis, o morto não trabalharia sequer um dia do ano no além!

Maat e o livro dos mortos


Em tempos posteriores, o deus Osíris, que estava relacionado com a vida futura, tornar-se-ia juiz dos mortos, presidindo a pesagem do coração de um homem contra o símbolo de Maat. Acreditava-se que o coração era o centro da mente e da vontade. Antes desse período, o tribunal divino estava sob o deus-sol Ra e a pesagem chamava-se contagem do caráter.

Um dos documentos mais famosos do Egito Antigo é o Livro dos Mortos, que contém textos fúnebres, cujo uso começou com o Período Imperial e continuou sendo usado em períodos subseqüentes. No Livro dos Mortos encontra-se a chamada Confissão a Maat.

Para conseguir um lugar na vida futura, um egípcio precisava confessar que não cometera erra algum; portanto, ele fazia uma verdadeira declaração de inocência, que é o inverso de uma confissão. Os egiptólogos e historiadores contemporâneos acham que o termo confissão é errôneo. Contudo, por tradição continuaremos sem dúvida a denominar os textos fúnebres a este respeito no Livro dos Mortos como a Confissão a Maat.

Os textos estão escritos em papiros e falam do tribunal para o egípcio morto. O juiz é Osíris, ajudado por quarenta e dois deuses que se sentam com ele para julgar os mortos. Os deuses representavam os quarentas e dois nomos, ou distritos administrativos, do Egito.

Os textos estão escritos em papiros e falam do tribunal para o egípcio morto. O juiz é Osíris, ajudado por quarenta e dois deuses que se sentam com ele para julgar os mortos. Os deuses representavam os quarentas e dois nomos, ou distritos administrativos, do Egito.

Evidentemente os sacerdotes criaram o tribunal de quarenta e dois juízes para controlar o caráter dos mortos de todas as partes do país .sendo a idéia de que pelo menos um juiz teria de vir do nomo do morto. Os juízes representavam os vários males, pecados, etc. O egípcio morto que estava sendo julgado não confessava pecados, mas afirmava sua inocência dizendo: "Não matei", "Não roubei", "Não furtei".

Para os egípcios antigos a morte não era o fim e sim uma interrupção. O egípcio não devia incorrer jamais no desagrado da sua divindade e do Maat. O conceito do julgamento sem dúvida causava impressão profunda nos egípcios vivos. O drama envolvendo Osíris é vívido e descreve o julgamento tal como afetado pela balança.

Um certo papiro, de excelente feitura e arte, mostra Osíris sentado num trono numa extremidade da sala do tribunal, com Ísis e Néftis de pé atrás dele. Num dos lados da sala estão dispostos os nove deuses da Novena Heliopolitana dirigida pelo deus-sol. No centro está a balança de Ra onde ele pesa a verdade.

A balança é manipulada pelo antigo deus dos mortos, Anúbis, de cabeça de chacal, e atrás dele, Toth, o escriba dos deuses, que preside a pesagem. Atrás deste fica o crocodilo monstro pronto para devorar o injusto. Ao lado da balança, em sutil insinuação, está a figura do destino acompanhada pelas duas deusas do nascimento que estão prestes a contemplar o destino da alma cuja vinda ao mundo elas certa feita presidiram. Na entrada está a deusa da verdade, Maat. Ela deve conduzir a alma recém-chegada à sala do julgamento.

Anúbis pede o coração do recém-chegado. Este é posto num dos pratos da balança enquanto no outro aparece a pluma, o símbolo de Maat. Dirigia-se ao coração e se pedia a ele que não se erguesse contra o morto como testemunha. O apelo era aparentemente eficaz, pois Toth dizia: "Ouvi esta palavra em verdade. Julguei o coração... Sua alma é testemunha sobre ele. Seu caráter é justo segundo a pesagem da grande balança. Não se encontrou pecado algum nele". Tendo assim recebido um veredito favorável, o morto é conduzido por Hórus, o filho de Ísis, e apresentado a Osíris. Após ajoelhar-se, o morto é recebido no reino de Osíris.

Na Confissão a Maat, o morto declarava sua inocência. Afirmava que nada fizera de errado. Em muitos casos um escaravelho, onde estava escrita uma fórmula, era enterrado com o morto. Esta fórmula destinava-se a impedir que seu próprio coração se levantasse como testemunha contra ele.

Thoth e o livro dos mortos


Thoth compreendia todos os mistérios da mente humana, pelo que há no “Livro dos Mortos” do Egito ele representa o advogado da humanidade. Em muitas pinturas é representado Anúbis ao lado da balança na qual era pesada a alma do morto ante o tribunal do julgamento, onde ele aparece diante da balança na qual era pesado o coração do morto. De um lado, num dos pratos da balança, era posto uma pena simbolizando a verdade, e do outro lado o Ab simbolizando o coração do morto. Cabia a Thot examinar a mente e determinar a dignidade do morto. No grande tribunal está Thot de pé diante da balança do julgamento dos homens penetrando na mente para julgar os sentimentos e propósitos. O escriba que nas gravuras está representado na presença de Osíris diante do julgamento das almas. Egípcios antigos acreditavam que antes do morto entrar no Além, primeiramente o coração dele deveria ser pesado na presença de Osíris. No mínimo o coração do morto deveria ter o peso de uma pena. O escriba Thot anotava criteriosamente o resultado de cada julgamento, assinalando se aquele que estava sendo pesado havia ou não se conduzido bem, se tivera uma vida digna e honrada. Por isto os egípcios diziam que Thot era o escriba confidencial do deus Osíris, o secretário de todos os deuses e fora ele quem trouxera para a Terra, entre inúmeras outras coisas, a música, assim como a instituição de um calendário anual constante de 365 dias, semelhante ao que somente muito depois foi oficializado e é utilizado na atualidade.

No mito simbólico da morte de Osíris, diz a Tradição egípcia que Thoth ensinou à deusa Ísis a conjurar encantos contribuindo assim decisivamente para que aquela deusa pudesse reconstituir totalmente o corpo do seu irmão Osíris que havia sido desfeito em pedacinhos. Por isto, segundo consta, toda a magia egípcia fora ensinada por Thoth.

Para muitos estudiosos tudo o que existe registrado a respeito daquela figura enigmática é meramente lendário, sendo a sua história nada mais que mitos. Quando muito são referências ao principal escriba que apenas transcreveu os conhecimentos existentes em sua época. Mas, igualmente outros estudiosos da História Antiga do Egito, o consideram pelos feitos assinalados se tratar de um ser dotado de poderes divinos. Podemos afirmar que esta é a verdadeira natureza de Thoth, tratava-se de um ser que compreendia todos os mistérios da mente humana, pelo que no está representado no “O Livro dos Mortos” como o advogado da humanidade.

Thoth é apresentado nos desenhos do Antigo Egito como a figura de Íbis, um pássaro grande integrante da fauna do Nilo.

Para os egípcios Thoth era o Deus do equilíbrio por isto nas gravuras ele era estampado como “Mestre da Balança” indicando estar ele associado com os equinócios - o tempo quando o dia e a noite eram equilibradas. Tido como o mais eficaz dos escribas de toda a civilização egípcia, e que segundo alguns pesquisadores escreveu cerca de cem mil manuscritos (papiros). Representou um papel crucial nas designações e orientação de templos e ziggurats. Era um escriba, moralista, mensageiro, e o mágico supremo. Considerado o deus protetor de todas as artes, ciências, e produções intelectuais.

Até então somente aqueles que fossem merecedores poderiam ter acesso. Estes livros sagrados são freqüentemente chamados de “Os 42 Livros de Instruções” ou “Os 42 Livros de Thot” que trazem os mais elevados conhecimentos esotéricos, místicos e metafísicos e sobre os quais se baseia a Gnosis Egípcia. Neles está registrado um imenso cabedal de instruções capazes de conduzir o ser humano à libertação do ciclo de reencarnações e a tomar ciência da Unificação Cósmica. Consta neles os meios da pessoa chegar à imortalidade constituindo-se isto a base da Alquimia Hermética.

Alguns textos herméticos foram inscritos nas paredes das câmaras internas da pirâmide de Saqqarah da 5ª e 6º dinastia no período compreendido entre 2686 a.C. e 2160 a.C. Aqueles escritos são os mais antigos escritos funerários de conhecimento público. Consta neles que Thoth tivera uma esposa de nome de Maat, que significa “Verdade", “Justiça”, mas não se sabe se isso tem sentido simbólico ou não. O que se sabe é que Maat, “verdade”, era representada como uma mulher alta com uma pena de avestruz no cabelo e que estava presente no julgamento do morto. Era exatamente aquela pena que era pesada contra o coração do morto.

O livro dos mortos na religião

Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade o viver além do tumulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção do texto religioso que é o “livro dos mortos”, cujo o verdadeiro nome é “saia para a luz do dia” e é o 1º livro da humanidade.

O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com trovões e raios, terremotos e vulcões para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.

Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano,e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas na sepultura.

No Egito, desde 4.400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3.800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte:

O cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.

A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:

“O corpo físico era o CAT, ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem, era CU e era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que, também, ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes pois se o nome for eliminado poder-se-á destruir o homem. Ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras”. Na V dinastia (3.400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:

“A alma para o céu e o corpo para a terra”.

O julgamento da alma e a vida eterna


A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.

Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.

O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo porém os deuses, encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a “Confissão Negativa” do papiro de NU (os 10 Mandamentos):

“Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é “O Senhor da Ordem do Universo” e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal !. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti”. É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3.800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:

“Ouvi esse julgamento, ............verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo”.

O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade.

Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1.500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam.

O livro dos mortos e a serpente
A serpente também está ligada à regeneração do dia, como relatado no Livro dos mortos (livro sagrado dos egípcios). O caminho que o Sol deve percorrer para renascer é dividido em 12 cômodos (que correspondem às 12 horas da noite). A barca solar inicialmente atravessa extensões de areia habitadas por serpentes e, depois, ela própria se transforma em serpente. Na sétima hora, aparece outra figura serpentiforme: Apófis, a encarnação monstruosa do senhor dos infernos e a prefiguração do Satanás bíblico. Na 11 a hora, a corda que puxa a barca se transforma em serpente. E, durante a 12 a hora, no cômodo do crepúsculo, a barca solar é puxada por uma serpente enorme. O Sol, então, sai de sua boca para renascer na Terra. O livro sagrado dos egípcios destaca, entre as várias características das serpentes, a de uma força hostil.

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